3.7.07

Conheça a arqueologia Brasileira

Conheça a arqueologia Brasileira
A arqueologia brasileira tem evoluído muito nos últimos anos. Prova disso são os sítios arqueológicos importantes que foram e estão sendo explorados em várias partes do Brasil. Confira, a seguir, alguns dos sítios brasileiros mais importantes.


São Raimundo Nonato, Piauí
Foi no ano de 1992 que uma descoberta incrível foi feita. A arqueóloga Niède Guidon, após realizar escavações no sítio Boqueirão da Pedra Furada, no estado do Piauí, conseguiu as evidências arqueológicas brasileiras mais antigas até então, 48.000 anos. Nesse mesmo local, haviam sido identificados vestígios de populações humanas de 6.000 anos atrás, depois de 30.000 anos, até chegar a 48.000 anos.

Essas datas têm uma importância científica ainda maior, pois contrariam uma das teorias da ocupação humana nas Américas. De acordo com essa teoria, há 12.000 anos, caçadores de mamute teriam vindo da Ásia até o Alasca, aproveitando uma ponte de gelo no Estreito de Behring, formada no final da última grande glaciação, iniciando a civilização americana. Os primeiros homens teriam chegado ao Brasil 10.000 anos atrás. As evidências materiais de São Raimundo Nonato provam que os homens chegaram bem antes ao nosso continente, e o que aconteceu 12.000 anos atrás foi um dos movimentos de ocupação das Américas, mas não o primeiro.

Quando começou o primeiro processo de povoamento das Américas, como ele ocorreu e quem foram esses pioneiros são questões que ainda estão para ser respondidas. E sítios como o do Piauí certamente ajudarão a trazer respostas a essas dúvidas.
Já a Serra da Capivara (Estado do Piauí), abriga um dos sítios arqueológicos mais ricos do mundo. São 25.000 desenhos que, juntamente com utensílios de pedra, ossos e vestígios de fogueiras, provocam uma revisão da história do homem no continente americano.


Canudos

Muitos certamente já ouviram falar da Guerra de Canudos, uma das mais sangrentas e violentas de todos os tempos em nosso solo. E, para provar que a arqueologia não mexe somente com acontecimentos de milhares ou milhões de anos atrás, ela resolveu ajudar a compreendermos melhor esse fato marcante de história brasileira.

A guerra aconteceu no fim do século XIX, no sertão da Bahia. Os participantes foram o exército brasileiro e os habitantes do povoado de Canudos, liderados pelo mítico Antônio Brasileiro. A repressão organizada pelo governo federal causou a morte de dezenas de milhares de pessoas.

Em 1902, Euclides da Cunha, que esteve presente no conflito, escreveu um livro que relatava o que ele havia presenciado, e que foi chamado de “Os Sertões”. O grande sucesso da obra ajudou a divulgar essa página triste de nossa história, fazendo com que várias pessoas tomassem conhecimento do acontecido.


Depois do lançamento de “Os Sertões”, uma série de outros livros e estudos científicos foram levados a cabo, todos tentando compreender melhor a tragédia de Canudos, que foi fundada em 1893 por Conselheiro e seus seguidores. Em 1897, quando a guerra acabou, foi realizada uma reocupação do povoado de Canudos. Mas, na década de 1970, os moradores tiveram que se retirar, pois um açude iria ser construído no local. Essa obra deixou Canudos literalmente naufragado e inacessível.

Somente em 1996, perto do aniversário de 100 anos do fim da guerra, ruínas começaram a aparecer. As secas freqüentes fizeram com que o açude secasse completamente em vários pontos, deixando o vilarejo, ou o que sobrou dele, pronto para ser explorado. A primeira expedição arqueológica começou seus trabalhos em outubro de 1999.

Infelizmente, pelo menos para a equipe exploradora, fortes chuvas apareceram após a primeira etapa de campo. O açude foi inundado novamente. Apesar do contratempo, foi possível reunir vários vestígios e estruturas que, após serem analisados e documentados, foram essenciais para ajudar na compreensão da ocupação e do conflito de Canudos, trazendo informações desconhecidas até então. Trincheiras, barricadas, partes de habitações da época, rastros de acampamentos e sepulturas foram encontrados.

O modo de vida dos seguidores de Conselheiro, seu cotidiano, a visão do próprio Antônio Conselheiro e, claro, a guerra, puderam ser melhor compreendidos graças ao trabalho e as conclusões a que chegaram a equipe de arqueólogos que se instalou no semi árido da Bahia.

Sambaquis

Entre 6.000 e 8.000 anos atrás, uma parte do nosso litoral, que ia desde São Paulo até o rio da Prata, foi ocupada por populações que viviam da exploração do oceano, dos mangues e das lagunas, pescando e coletando moluscos. Além disso, também trabalhavam com outros produtos vegetais e costumavam construir monumentos com conchas. Sua presença na região é estimada em 5.000 anos, e o auge de seu desenvolvimento aconteceu entre 4.000 e 2.000 anos. Os avanços e recuos do mar no período fazem com que seja extremamente árduo precisar os movimentos dessa população.

Os sambaquianos, como ficaram conhecidos, costumavam acampar perto de mangues e se protegiam do vento e do mau cheiro através da elevação formada lentamente pela sobreposição dos restos de conchas e moluscos. Sobre os montes formados por mariscos, eles construíam suas casas. Seu nome, aliás, vem daí. Sambaqui é uma palavra originária do tupi, e quer dizer amontoado de mariscos (tampa = marisco e ki = amontoado). O tipo físico padrão dos sambaquianos era 1,61m de altura, crânio alto e nariz largo. Essa descrição foi possível graças aos vários sepultamentos que expedições arqueológicas descobriram.

Em Santa Catarina, foram encontrados vestígios desse povo antigo e muito interessante.
Nos sítios catarinenses explorados, foram encontrados vestígios de fogueiras, de moradias, alimentos e sepultamentos, entre outras evidências que ajudaram a contar a história desse povo. Instrumentos de caça e outros, como pontas em osso, lâminas de machado, quebra-coquinhos, agulhas, pesos de rede, anzóis, etc., também foram descobertos.

Um dos maiores legados dos sambaquianos foram suas esculturas, que são, sem dúvida, uma das formas de expressão mais impressionantes de nossa pré-história. Tratam-se de peças feitas em pedra, conhecidas como zoolitos, quando representam animais ou antropolitos, quando retratam humanos. Cálculos feitos indicam que um peixe, por exemplo, demoraria por volta de 200 horas pra ser finalizado, desde o lascamento até o acabamento final. Infelizmente, muito desse trabalho se perdeu, por diferentes razões. Alguns desavisados simplesmente retiravam as conchas empilhadas e as transformavam em cal, sem saber de seu valor histórico. Estradas que passavam no meio dos povoados sambaquis foram construídas, destruindo todo a herança deixada por eles. Para completar, pessoas conscientes do valor das peças que ali estavam, se apropriaram delas, criando coleções particulares. Foi somente no ano de 1961, é que essa herança passou a ser preservada, através de uma lei que visava preservar os sítios arqueológicos sambaquis.


Ilha de Marajó

A Amazônia, como um todo, é e foi palco de diversas tribos indígenas, todas elas contribuindo com sua própria cultura rica e peculiar. Vamos destacar, porém, um povo em particular, o que ocupou a Ilha de Marajó. Desde o final do século XIX, os marajoaras têm chamado a atenção de pesquisadores e curiosos, principalmente depois da descoberta de cerâmica enterrada em enormes aterros artificiais. Os arqueólogos pioneiros na ilha foram os americanos Betty Meggers e Clifford Evans. Na época, chegaram à conclusão que, devido à riqueza da produção local, os habitantes da ilha eram migrantes dos Andes. Essa concepção, porém, não é mais adotada atualmente. Estudos mais recentes indicam que a cultura marajoara era realmente local, e que seus primeiros habitantes datam de 3.500 anos atrás.

Uma das principais características da arquitetura local são os tesos. Eles são aterros gigantes, que podem chegar a até 12 metros de altura por 200 metros de comprimento. As aldeias marajoaras eram construídos em seus topos. A razão de sua construção e do posicionamento das aldeias é muito simples. A ilha estava sujeita a alagações freqüentes, que a deixavam inundada metade do ano, e os tesos protegiam seus habitantes. Com o passar do tempo, os tesos também passaram a ter um significado simbólico – eles representavam o poder dos caciques. Os marajoaras também desenvolveram ideogramas, que se combinavam e se repetiam. Outra contribuição magnífica dos marajoaras são os ideogramas, que se combinavam e se repetiam. Narrativas gravadas em sua cerâmica fazem referência à cultura local, destacando animais como lagarto, escorpião e a jararaca. Estudos feitos permitiram entender a lógica dessas narrativas. Essa forma de expressão, porém, não quer dizer que eles dominavam uma espécie de escrita.

Outros destaques

Existem centenas de sítios arqueológicos catalogados no Brasil, que exploram desde a pré-história até o século XIX. Veja, abaixo, alguns destaques da arqueologia nacional.

O crânio mais antigo das Américas foi encontrado nas cavernas da região de Lagoa Santa, em Minas Gerais. Ele é de cerca de 11.000 anos atrás. Por se tratar de uma mulher, foi batizada de Luzia, em uma alusão a Lucy, o fóssil humano mais antigo encontrado, na África, com idade aproximada de 2 milhões de anos.

No Vale do Peruaçu, em Minas Gerais, encontram-se os mais belos exemplares de arte rupestre já vistos por aqui. Suas principais características são o uso intenso de cores e o os grafismos geométricos. Esses jogos de cores, inclusive, fazem com que esses desenhos sejam considerados superiores aos já vistos na Europa. As obras mais recentes são de 2.000 anos atrás, as mais antigas, de 11.000.

No Rio Grande do Sul, viveu o chamado Povo das Casas Subterrâneas, indígenas pré-históricos que se estabeleceram por lá. Eles, para se protegerem do frio do inverno, construíram aldeias formigueiro, que eram, na verdade, cerca de 30 moradias escavadas na terra, que os mantinham aquecidos.