18.6.09

Esperando o imperador

Por todo o Brasil, casas, fazendas e até árvores celebram a passagem de D. Pedro II. Mesmo onde ele não apareceu
Juliana Barreto Farias

Agora, só restam ruínas. Na verdade, as obras nunca foram adiante. Como Sua Majestade mandou avisar que não iria, os palácios ficaram por terminar. Mesmo assim, é difícil percorrer Alcântara, pequena cidade localizada a apenas 22 quilômetros da capital do Maranhão, sem que moradores ou um guia ocasional contem alguma história sobre os velhos casarões construídos para receber D. Pedro II na década de 1860.

Não é só ali que a memória do imperador continua viva. De Norte a Sul do país, casas, fazendas, estradas e até mesmo árvores “tocadas” por D. Pedro II viraram atrações turísticas. Mesmo quando as visitas reais nem aconteceram.

D. Pedro gostava de uma viagem. Como bom andarilho, ávido por conhecer novos lugares e pessoas, percorria as cidades e províncias mais distantes. Assim fortalecia a imagem da monarquia e preservava a unidade nacional. Quase sempre aproveitava para escapar das cerimônias oficiais: visitava igrejas, conventos, hospitais, escolas, cemitérios, quartéis. Depois anotava tudo em seus diários.

A primeira vez que deixou a Corte foi em 1845, num giro de seis meses pelas províncias de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Daí em diante, passou pelas fazendas de café do Vale do Paraíba, por cidades do Norte e do Nordeste, por Minas Gerais. Em cada um desses lugares, era recebido com pompa e comoção. Em 1859, as ruas e casas do Recife foram iluminadas e enfeitadas para sua chegada. O monarca prolongou a visita aos engenhos do interior da província, e até hoje o pequeno município de Moreno, a apenas 28 quilômetros da capital, não esquece o local em que o imperador teria ficado: o Casarão do Engenho do Moreno.

O imperador pode ter passado por ali. Ou não. Ele não era muito preciso em seus registros. “Andei por todos os cantos onde D. Pedro II teria andado. Em muitos lugares, as pessoas diziam: ‘Ele esteve aqui’. Eu ia ver e não tinha estado. É interessante essa presença/ausência. Percebi que o imperador se transformou num personagem afetivo”, assinala Lilia Moritz Schwarcz, professora do Departamento de Antropologia da USP e autora do livro As barbas do imperador.

Exemplo disso é a história do “pinheiro de D. Pedro II”, plantado bem no meio da Estrada da Graciosa, que desde o século XIX liga Curitiba ao litoral paranaense. Passando por ali em maio de 1880, perto do “núcleo de colonos do Ipiranga”, o imperador se encantou com uma araucária. Segundo Rubens Habitzreuter, autor do livro A conquista da Serra do Mar, durante muitos anos os turistas seguiam até a Borda do Campo, a apenas vinte quilômetros da capital, só para visitar a árvore do imperador. Até que o pinheiro foi atingido por um raio. Mais adiante, um monólito ainda traz a inscrição: “À sombra deste pinheiro, diz a tradição, em 21 de maio de 1880, descansaram o Senhor D. Pedro II, a família imperial e a Imperial Comitiva no seu caminho para Curitiba”.

Real ou imaginária, a onipresença de D. Pedro demonstra como os brasileiros ainda cultivam uma memória carinhosa da monarquia.


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