9.7.09

Impeachment de Collor



Impeachment de Collor, o "Caçador de Marajás"
Processo foi aprovado em 28 de agosto de 1992,
pela Câmara dos Deputados


Em 1989, depois de 29 anos da eleição direta que levou Jânio Quadros à Presidência da República, o alagoano Fernando Collor de Mello (lançado pelo pequeno PRN) foi eleito por pequena margem de votos (42,75% a 37,86%) sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em campanha que opôs dois modelos de atuação estatal: um pautado na redução do papel do Estado (Collor) e outro de forte presença do Estado na economia (Lula).

A campanha foi marcada pelo tom emocional adotado pelos candidatos e pelas críticas ao governo de José Sarney. Collor se autodenominou "caçador de marajás", que combateria a inflação e a corrupção, e "defensor dos descamisados". Lula, por sua vez, apresentava-se à população como entendedor dos problemas dos trabalhadores, notadamente por sua história no movimento sindical.

Nos primeiros 15 dias de mandato, Collor lançou um pacote econômico, que levou seu nome, e bloqueou o dinheiro depositado nos bancos (poupança e contas correntes) de pessoas físicas e jurídicas (confisco). Entre as primeiras medidas para a economia havia uma reforma administrativa que extinguiu órgãos e empresas estatais e promoveu as primeiras privatizações, abertura do mercado brasileiro às importações, congelamento de preços e pré-fixação dos salários.

Embora inicialmente tenha reduzido a inflação, o plano trouxe a maior recessão da história brasileira, resultando no aumento do desemprego e nas quebras de empresas. Aliado ao plano, o presidente imprimia uma série de atitudes características de sua personalidade, que ficou conhecida como o "jeito Collor de governar".

Era comum assistir a exibições de Collor fazendo cooper, praticando esportes, dirigindo jato supersônico, subindo a rampa do Palácio do Planalto, comportamentos que exaltavam suposta jovialidade, arrojo, combatividade e modernidade. Todos expressos em sua notória frase "Tenho aquilo roxo".


Por trás do jeito Collor, montava-se um esquema de corrupção e tráfico de influência que veio à tona em seu terceiro ano de mandato.

Em reportagem publicada pela revista Veja, edição de 13 de maio de 1992, Pedro Collor acusava o tesoureiro da campanha presidencial de seu irmão, o empresário Paulo César Farias, de articular um esquema de corrupção de tráfico de influência, loteamento de cargos públicos e cobrança de propina dentro do governo.


População foi às ruas pedir o impeachment
do primeiro presidente eleito em 29 anos

O chamado esquema PC teria como beneficiários integrantes do alto escalão do governo e o próprio presidente. No mês seguinte, o Congresso Nacional instalou uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o caso. Durante o processo investigatório, personagens como Ana Accioly, secretária de Collor, e Francisco Eriberto, seu ex-motorista, prestaram depoimento à CPI confirmando as acusações e dando detalhes do esquema.

Um dos expedientes utilizados por PC era abrir contas "fantasmas" para realizar operações de transferência de dinheiro _arrecadado com o pagamento de propina e desviado dos cofres públicos_ para as contas de Ana Accioly. Além disso, gastos da residência oficial de Collor, a Casa da Dinda, eram pagos com dinheiro de empresas de PC Farias.

Aprovado por 16 votos a 5, o relatório final da CPI constatou também que as contas de Collor e PC não foram incluídas no confisco de 1990. Foi pedido o impeachment do presidente.

Em agosto, durante os trabalhos da CPI, a população brasileira começou a sair às ruas para pedir o impeachment. Com cada vez mais adeptos, os protestos tiveram como protagonista a juventude, que pintava no rosto "Fora Collor", com um ele verde e o outro amarelo, e "Impeachment Já" - foi o movimento dos "caras-pintadas".

Em votação aberta, após tentativa de manobra do presidente para uma sessão secreta, os deputados votaram pela abertura de processo de impeachment de Collor. Foram 441 votos a favor (eram necessários 336), 38 contra, 23 ausências e uma abstenção.

Collor renunciou ao cargo, mas com o processo já aberto, teve seus direitos políticos cassados por oito anos, até 2000.

Reportagens da Revista Veja

Caso Collor

O dossiê do irmão do presidente
Pedro Collor só chama o empresário PC Farias de "Lepra Ambulante". Ao se referir a Pedro, PC também não é amistoso. "Aquele moleque tem uma inteligência desse tamaninho e toma doses de vodca desse tamanhão", diz. O que faz o conflito atravessar as fronteiras de Alagoas é um dossiê que Pedro tem em suas mãos sobre o Lepra Ambulante. "Se esse material se tornasse público, o impeachment poderia ocorrer em 72 horas", disse o irmão mais novo de Collor.
(19 de fevereiro de 1992)

50 milhões lá fora
VEJA teve acesso à seção "negócios internacionais" do Dossiê Pedro Collor. Os documentos mostram que PC Farias tem participação em pelo menos nove empresas no exterior. Segundo especialistas, tal articulação de empresas é feita quando se precisa movimentar um capital da ordem de 50 milhões de dólares.
(13 de maio de 1992)

Os jardins da Dinda
Os jardins babilônicos de Fernando Affonso Collor de Mello são a sétima maravilha da corrupção do governo. Para dar um toque final na megalomania vegetal, há cinco grandes cachoeiras de águas cristalinas. O sibarita só aciona o mecanismo eletrônico que faz as cascatas ciciarem quando estão presentes os sicofantas e sacripantas de sua intimidade.
(9 de setembro de 1992)

Presidente é afastado
O presidente Fernando Collor de Mello foi afastado do cargo que ocupava desde 15 de março de 1990. O voto de 441 deputados a favor do seu julgamento no Senado, dado em alto e bom som na memorável sessão de terça-feira passada, apeou a cáfila de salteadores que ocupou a Presidência.
(30 de setembro de 1992)

Pedro Collor tem câncer
Pedro Collor de Mello tem quatro tumores malignos no cérebro. A área afetada é tão grande que torna impossível um tratamento cirúrgico.
(30 de novembro de 1994)

Fonte: Folha de São Paulo
Veja On-Line