21.12.09

A religião sem razão

Apesar de criticar a intolerância religiosa, Voltaire acredita que a crença é importante para a sociedade. Mas a aceitação de seus dogmas sem questionamento levou o homem ao fanatismo, à barbárie e à destruição


Por Márcio Müller

“A crença forte só prova a sua força, não a verdade daquilo em que se crê” NIETZSCHE

Muitas pessoas concordam com a ideia propagada de que “religião não se discute”. De fato, não se discute a convicção de cada um, mas é possível entender o significado das religiões e da busca constante do sentido da vida pelo ser humano. Com base em registros históricos, sabe-se que o ser humano se relaciona com a dimensão divina há milhares de anos.

No entanto, o relacionamento humano com o divino já proporcionou capítulos de horror ao longo da história. E um dos mais intrigantes e sanguinários ocorreu na Europa, mais precisamente na França, entre os séculos XVI e XVIII. Nessa época, arrogava-se normalmente o direito de atormentar homens por suas crenças. Dentre as vítimas, os mais dignos de pena eram seguramente os protestantes.

François-Marie Arouet, o filósofo francês conhecido como Voltaire (16941778) vivenciou este período e alargou inúmeras reflexões sobre a tolerância. Humanista liberal, defensor da justiça, estabelece um combate à intolerância e ao fanatismo, pela análise de vários exemplos de perseguições.

O filósofo condena claramente as lutas religiosas quando afirma que “esta horrível discórdia, que dura há tantos séculos, constitui a lição bem expressiva que devemos perdoar-nos mutuamente os nossos erros; a discórdia é o grande mal do gênero humano e a tolerância seu único remédio” (Dicionário filosófico, 1973, p.298). Mais que uma reflexão analítica, a participação de Voltaire na construção da tolerância como valor moral se deve à defesa radical da condição humana. Ele diz que devemos nos tolerar porque somos fracos, inconsequentes e sujeitos ao erro e à mutabilidade.

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Aprovação do Estatuto Social da Companhia de Jesus, obra de Johann Handke. Voltaire criticava as religiões que pareciam ter como único objetivo garantir um trono a seus pontífces, ainda que fundado na miséria ou no sangue do povo

O ponto de partida escolhido para sua campanha contra a perseguição religiosa foi o ocorrido na noite de 13 de outubro de 1761, em Toulouse, em que um pai, juntamente com sua família, é condenado pelo enforcamento do próprio filho que apenas pretendera converter-se ao catolicismo numa terra de católicos, contra a vontade de um pai calvinista. Tempos depois, este homem é torturado, quebrado vivo, estrangulado e atirado numa fogueira ardente Supostamente, aos olhos do parlamento local, fazia-se justiça ao assassino.

Infelizmente este caso não difere de vários outros casos ocorridos, nem sequer pelo fato, de anos mais tarde, a França ter reconhecido a inocência do condenado Jean Calas, um bom homem, trabalhador e respeitado pela comunidade. O que se tornou digno de registro não foi exclusivamente o erro da justiça ou o horror na prática de tortura, mas aquilo que motivou a condenação de um homem inocente: a intolerância religiosa. De todas as religiões, a cristã, segundo Voltaire, é a que deveria inspirar mais tolerância, embora os cristãos tenham sido os mais intolerantes de todos os homens. Todo o empenho é para que haja tolerância religiosa no ímpeto da Cristandade, e que os diferentes cristãos saibam tolerar-se uns aos outros.

Durante o exílio na Inglaterra, Voltaire ficara admirado com o pluralismo religioso ali instituído, em contraste com a situação francesa. Alguns anos antes do seu nascimento, a religião reformada era proibida no reino da França, e foi somente em 1787 que Luís XVI decidiu promulgar um “edital de tolerância” em favor dos súditos que não pertenciam à religião católica. É neste ambiente de intolerância religiosa que Voltaire cresceu, alimentando uma profunda antipatia pelo fanatismo. Seu grande objetivo apontava para um pluralismo religioso, argumentando que, quanto mais seitas houver, menos perigosa cada uma será, pois a multiplicidade as enfraquece: “Se entre nós houver duas religiões, hão de cortar-se o pescoço; se houver trinta, viverão em paz”.

O empenho é para que haja tolerância no ímpeto da Cristandade, e que os diferentes cristãos saibam tolerar-se uns aos outros

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Na imagem, a execução de um inca. Com a descoberta da América, os espanhóis proibiam as religiões nativas e mpuseram o cristianismo. A intolerância levou a humanidade a cometer crimes bárbaros

Apesar de seus ataques muitas vezes violentos contra algumas religiões, Voltaire não era ateu. O filósofo detestava o ateísmo e culpava o dogmatismo cristão e a superstição de muitos crentes pelo aumento da quantidade de ateus. Ele entendia que era melhor o ser humano ser subjugado por todas as superstições possíveis, desde que não causasse barbárie alguma, do que viver sem religião. O homem sempre teve a necessidade de um freio e, mesmo que tenha sido ridículo fazer determinados sacrifícios, era mais plausível e útil adorar essas imagens fantasiosas da divindade do que viver sem acreditar em nada. “Um ateu polêmico, violento e robusto seria um flagelo tão funesto quanto um supersticioso sanguinário” (Tratado sobre a tolerância).

FREIO DIVINO

A religião é necessária em qualquer lugar que houver uma sociedade estabelecida, pois enquanto as leis reprimem os crimes conhecidos, de um lado, do outro a religião se encarrega dos crimes secretos. Quando o homem não tem noções claras e sadias da divindade, as ideias falsas ocupam seu lugar – como durante épocas infelizes que se fazia comércio com moeda falsa na falta da verdadeira – e temem cometer qualquer ato hediondo com medo de uma punição divina.

Se levarmos em conta o fato da necessidade da religião, do homem reverenciar o sobrenatural para buscar compreensões e um sentido à própria vida, qual é o motivo de se lançar ao fanatismo que leva à destruição, à morte e à intolerância ao próximo? “Um homem que recebe sua religião sem exame não difere de um boi que atrelam”. (O túmulo do fanatismo). Examinar, questionar, é um dever de qualquer um que respeita a razão. Seguir uma crença somente porque é a crença dos pais seria um tremendo engano. Quando se questiona quantos filhos de cristãos são muçulmanos, ou quantos filhos de muçulmanos são cristãos, tem-se uma clara noção de como o puro acidente geográfico ao nascimento exerce enorme influência na crença religiosa.

Dogmas X Cotidiano

O comportamento sexual da humanidade, ao menos no Ocidente, não foi mais o mesmo depois da década de 1960. Uma série de acontecimentos concentrados neste período – como o surgimento da pílula contraceptiva, o movimento hippie e o Woodstock – pavimentou o caminho para o que fcou conhecido como “Revolução Sexual”, com maior tolerância ao sexo fora do casamento, à homossexualidade, ao erotismo e a uma série de questões que envolvem a liberdade sexual.

Se por um lado o comportamento da humanidade mudou, por outro alguns dogmas religiosos continuaram intactos. Daí vêm confitos cotidianos e muita polêmica. No início deste ano, por exemplo, a Igreja Católica se viu envolvida em dois escândalos. Em um deles, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, defendeu a excomunhão dos responsáveis pelo aborto de uma menina de 9 anos que havia sido estuprada pelo padrasto e estava grávida de gêmeos. A Igreja Católica condena o aborto em qualquer circunstância por acreditar que a alma passa a existir no novo ser a partir do momento em que o óvulo é fecundado pelo espermatozoide.

Outra polêmica ocorreu na visita do papa Bento XVI à África, região do planeta mais afetada pela Aids. Ele declarou que a distribuição de preservativos não era a forma correta de combater a disseminação do vírus HIV. A Igreja Católica condena o uso de camisinha e encoraja a abstinência sexual como forma de combater a disseminação da doença.

Evangélicos também se confrontam com a realidade atual, já que defendem ser o sexo aceito por Deus apenas entre um homem e uma mulher, casados, e para gerar flhos.

Imagens: ARQUIVO CIÊNCIA & VIDA
Galileu Galilei, interrogado pelo Tribunal da Inquisição

Intolerância Religiosa

Como defende Voltaire, a religião pode ser uma espécie de freio para a humanidade ao evitar que o homem cometa uma série de crimes por medo do castigo divino. Por outro lado, ela também pode provocar barbaridades e destruição ao propagar a intolerância. Isso ocorre quando há a aceitação de dogmas religiosos sem um questionamento racional. A seguir, listamos algumas atrocidades cometidas em nome da fé:

Giordano Bruno

Catolicismo e a Inquisição

A igreja católica punia com penas que variavam do confsco de bens até a morte – às vezes na fogueira – aqueles que negavam, segundo a visão católica, os ensinamentos de Cristo e a doutrina da igreja, ferindo a ortodoxia. Essas punições fcaram conhecidas como Inquisição ou Santa Inquisição. Os primeiros Tribunais da Inquisição surgiram no século XII e só tiveram o fm formal no século XIX. O herege precisava sempre ser eliminado publicamente. Entre as vítimas famosas da Inquisição está Giordano Bruno (1548-1600), flósofo e frade dominicano que foi condenado à morte na fogueira por defender a teoria heliocêntrica de Copérnico.

Islamismo e Terrorismo

A guerra santa islâmica, conhecida como Jihad, já fez milhões de vítimas pelo mundo em nome da fé. Ela é um dos cinco pilares do islamismo e procura converter o maior número de pessoas para sua religião. De acordo com a crença religiosa, quem morre na Jihad é enviado diretamente ao paraíso, sem ser punido por seus pecados. O aspecto sanguinário da Jihad é ligado aos homens-bomba e aos atos de terrorismo contra o Ocidente. Mas há controvérsias se eles de fato fazem parte da Jihad. Questiona-se se ela só pode ser travada para defender fsicamente seus féis ou se pode ser aplicada para recuperar terras que já pertenceram aos muçulmanos e para defender o Islã contra infuências que corrompem a religião.

Imagens: ARQUIVO CIÊNCIA & VIDA
Shiva, deus hindu

Hinduísmo e Discriminação

O hinduísmo divide a população em castas de acordo com a origem familiar. Os Dalits não pertecem às castas e, por isso, vistos como impuros e são altamente discriminados. Por séculos, os Dalits viveram à margem da sociedade indiana, situação que está um pouco mudada, mas o preconceito ainda existe. Gandhi foi um grande defensor dos Dalits, lutando contra a discriminação que o sistema de castas provocava.

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Judeus no Yom Kipur, de Maurycy Gottlieb

Judaísmo e Perseguições

Judeus já perseguiram e foram perseguidos em decorrência de sua fé. O cristianismo começou como uma seita do judaísmo e, portanto, os primeiros cristãos foram perseguidos por heterodoxia. Jesus Cristo e os apóstolos foram vítimas, segundo a Bíblia. Com a conversão de Constantino I, o primeiro imperador romano a reconhecer a religião cristã, foram os judeus que passaram a ser perseguidos. À parte desta história, não se pode esquecer o massacre de judeus perseguidos pelo regime nazista de Adolf Hitler.

As várias seitas fundadas no cristianismo provocam, por vezes, a suposição de serem sistemas equivocados. Mas por que? Porque o homem sábio deve pensar consigo mesmo: se Deus quisesse fazer conhecido seu culto a todos, seria pelo fato desse culto ser necessário a todos. Também, se fosse tão necessário, ele mesmo teria dado esse culto, assim como deu olhos e boca para todas as pessoas. Seria uniforme por toda parte, pois todas as coisas necessárias aos homens são universais, como a faculdade da razão, comum a todas as nações civilizadas.

Se [o culto de Deus] fosse tão necessário, ele teria dado a todos esse culto, como deu olhos e boca para as pessoas

As críticas embasadas de Voltaire, além de também serem ao judaísmo, estão principalmente centradas no cristianismo, mas quando diz que “a desconfiança aumenta quando se percebe que o objetivo de todos aqueles que estão à frente das seitas é dominar e enriquecer quanto puderem, e que, desde os daris do Japão até os bispos de Roma, a única preocupação foi erguer para um pontífice um trono fundado na miséria dos povos e muitas vezes cimentado com seu sangue”.

Em 1755, no dia de Todos os Santos, ocorreu em Lisboa um forte terremoto. Não se tratava apenas de um dos tantos terremotos que os europeus conheciam, mas sim o pior da história do velho continente que se tem registro. A maioria das pessoas estava na missa. Muitos morreram sob os escombros de igrejas que ruíram. Ondas gigantescas engoliram rapidamente as áreas mais baixas da cidade. Para o cúmulo da desgraça, seguiu-se um terrível incêndio que destruiu boa parte do que havia sobrado do terremoto por seis dias. O total de mortos jamais será conhecido. A maioria indica que mais de 30 mil acabaram morrendo. Tamanha catástrofe, como não poderia deixar de ser, provocou inúmeras polêmicas das quais participaram os filósofos Voltaire e J. J. Rousseau, rivais ideológicos do movimento iluminista.

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Para decidir a questão, de John George Brown. Para Voltaire, o homem não deve se basear em dogmas religiosos para tomar suas decisões e sim usar a razão. Ele vê o fanatismo religioso como o pior inimigo da razão

Na ocasião, o clero procurou explicar o terremoto como uma punição divina aos pecadores da cidade de Lisboa. Que Ser Superior era aquele, tido por Benfeitor Universal, que não ousou em dizimar grande parte de uma população, metendo numa mesma embrulhada de castigos os idosos, as mulheres e as crianças, que certamente não tinham a menor ideia do que poderia vir a ser um pecado? Não só os esmagou, como os afogou e os queimou em massa. Fogo este alimentado por milhares de velas acesas nas casas e nos altares das igrejas, que estavam repletas de fiéis. E logo onde! Logo em Lisboa, a mais carola de todas as capitais da cristandade.

Desde então, o filósofo tornou-se inimigo da Religião organizada, visto que entendeu a pregação dos padres como um insulto da superstição aos milhares de mortos e mutilados pelo desastre. Sua indignação frente as fanatismo clerical é nítida, o que podemos notar no seu Poème sur lê desastre de Lisbonne, escrito naquele mesmo ano, em 24 de novembro, daquele mesmo ano.

Voltaire questionava, portanto, se Deus é bom, poderoso e justo, por que permitiu tal tragédia, e não poupou nem as criancinhas? No fundo, ele coloca uma questão que todos já nos fizemos: como compatibilizar o mal com a ideia de um Deus caritativo? “É preciso dizer: o mal está na terra:/ Seu princípio secreto é desconhecido:/Do autor de todo bem terá ele partido:”, diz um trecho do poema.

Na tentativa de entender esta catástrofe, Voltaire, de um lado, questiona a Grandeza de Deus por não poupar nem os inocentes. Ele tenta compreender a bondade divina que permitiu a existência do mal. Epicuro é citado em sua exortação a Lisboa ao concluir que, ou Deus quis impedir o mal e não pode, ou pode e não quis, ou nem quis e nem pode. Mas, se quis e não pode, não é Deus; se pode e não quis, não é bom, o que é contrário a Deus. “Se quer e pode, o que é a única coisa compatível com a divindade, qual é a origem de todos os males?” questiona Epicuro.

o outro lado, aparece J.J.Rousseau, que publicou uma resposta ao poema de Voltaire em forma de carta, a Lettre sur la Providence, inocentando Deus e a natureza de toda culpa. Rousseau prefere atribuir a culpa aos homens, processo que resulta numa visão bastante moderna do problema dos terremotos. Como bem observa, não foi a natureza que, numa área relativamente pequena, reuniu 20 mil casas, algumas com seis ou sete andares, a encontrarem-se assim todos amontoados as margens do rio Tejo. Se vivessem mais dispersos, mais afastados uns dos outros, provavelmente o desastre seria bem menor. Além disso, “quantos infelizes pereceram neste desastre porque quiseram pegar, uns as suas roupas, outro, sua papelada, outro, seu dinheiro?”.

Voltaire (16941778), flósofo francês, foi um árduo defensor das liberdades, inclusive da liberdade religiosa. Suas ideias infuenciaram pensadores da Revolução Francesa. Escritor político, usava suas obras para criticar as instituições francesas e a Igreja Católica

Aquele que não aceita questionar sua fé e sua religião perdeu esta capacidade inerente a todo homem: o pensar


Embora pareça óbvio que as consequências de um terremoto (ou mesmo de uma enchente, furacão ou outros desastres naturais) são inseparáveis do tipo de sociedade na qual ocorre o desastre, essa era uma ideia totalmente nova no século XVIII.

O fanatismo religioso era e é o pior inimigo da razão “a carcereira impiedosa da razão”. Essa ideia foi sustentada na polêmica em defesa da Encyclopédie, de Diderot e de D’Alembert, contra católicos conservadores. Em 1758, quando a obra desses pensadores sofria fortes retaliações, Voltaire exortava dizendo a estes para lançarem-se “contra a canalha”, aniquilando seus sofismas, seus absurdos, suas vãs declarações. A “canalha”, exortada por Voltaire, eram os padres acusados de “fechar a razão humana nas cadeias do dogma”. No entanto, havia uma exceção: os padres céticos, que liam e admiravam Voltaire.

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OPRESSORES DA RAZÃO

Os padres eram considerados opressores da razão e dos sagrados direitos. No Dicionário filosófico, Voltaire não lhes perdoa as ofensas à razão. Escreve: “quando um padre diz ‘Adorai a Deus, sede justo, indulgente e bondoso’, é um bom médico. Quando diz ‘acreditai em mim ou sereis queimado’, é um assassino”. De imediato, somos levados a pensar que Voltaire odiava o clero com toda sua ira, mas não é bem isso. Voltaire não suportava a forma com que o clero pregava o cristianismo. Conta que na França, um cura chamado João Meslier, ao morrer, pediu perdão a Deus por ter ensinado o cristianismo a seus paroquianos. Essa confissão mostra como a prática do cristianismo era cruel e abusiva, pois, além do clero não temer a Deus, usava o nome de Deus para sufocar e instigar as pessoas contra outras seitas.

Terremoto ocorrido em Lisboa, em 1755, que deixou cerca de 30 mil mortos. A Igreja disse ser uma punição divina contra pecadores da cidade e Voltaire se revoltou contra essa explicação

A intolerância mais bárbara entre os cristãos, sem dúvida, dava-se na França. Eram os próprios cristãos os perseguidores, os carrascos e os assassinos dos próprios irmãos. Destruíam cidades com crucifixo ou Bíblia na mão, sem cessar de derramar sangue e acender fogueira. Contudo, essa era uma prática que não se dava em todos os países da Europa. Se muitas destas barbáries foram encabeçadas pelo clero francês, padres católicos de nenhum outro país protestante agiam assim, segundo Voltaire, dando como exemplo os padres da Inglaterra e da Irlanda que ali viviam pacificamente. A indignação estava na tentativa de encontrar uma resposta ao porquê de sua nação ser sempre a última a abraçar as opiniões saudáveis dos outros países.

Para Benjamim Franklin, “o jeito de ver pela fé é fechar os olhos da razão”. De fato, os homens precisam exercitar a razão, e não aceitar seus dogmas de forma fanática e cega. O raciocinar pela metade só leva ao fanatismo e falsas superstições, pois aquele que não aceita questionar sua fé, seus dogmas e sua religião, perdeu esta capacidade inerente a todo homem: o pensar. Este homem passa a ser um indivíduo que apenas repete “verdades” reveladas, por mais absurdas que sejam. A humanidade ainda tem muito para avançar se destruir de vez o fanatismo religioso de seu interior, que tanta desgraça e destruição tem trazido ao mundo.

Referências

VOLTAIRE. Tratado sobre a tolerância. São Paulo: Martins Fontes, 2005

_________. O túmulo do fanatismo. São Paulo: Martins Fontes, 2006

_________. Cartas filosóficas. São Paulo: Martins Fontes, 2007

_________. Dicionário filosófico

Fonte: portal Ciência & Vida