6.10.10

Brasil, o três de outubro de 1930

Osvaldo Aranha, vitorioso. Foto: Divulgação

Osvaldo Aranha, vitorioso

Foto: Divulgação

Como se davam as eleições em 1930, vésperas da famosa revolução que reiniciou o processo de centralização política e administrativa do Brasil? O sistema eleitoral vigente na chamada República Velha era um escândalo, impedindo na prática de haver a rotatividade do poder, fator fundamental para a renovação das elites políticas republicanas.

A grande fazenda
De Norte a Sul, o velho sistema de eleições a bico de pena funcionou primorosamente... os trabalhos da apuração evidenciaram a fraude generalizada, descarada...
(Virgilio de Melo Franco, sobre as eleições de 1º de março de 1930)

O Brasil era então um fazendão. Do Norte exportava borracha e castanhas, do Nordeste açúcar e algodão, cacau do sul da Bahia, e café do triangulo do Leste (composto pelo Rio de Janeiro-Minas Gerais e São Paulo). Bem no Sul vendia carnes e couros. Subdivido entre o litoral povoado e o sertão bravio, quase que deserto.

A população, 37 milhões de habitantes, era inferior ao do estado de São Paulo de hoje, a grande maioria, uns 70%, composta por zecas-tatus, miseráveis vivendo em choupanas, cultivando mandioca e tudo que é tipo de doença. A Indústria era insignificante e as poucas estradas de rodagens quase que intransitáveis.

Os presidentes eram eleitos no Automóvel Clube do Rio de Janeiro e o mandonismo imperava por tudo. Em cada município um coronelão dava as ordens, apoiado numa milícia de jagunços e "cabras" e na "vocação pacifica do povo brasileiro".

Agora se queixam das pesquisas por elas induzirem o eleitor a votar no que está à frente, mas até 1930 era bem pior. Vencia sempre quem o governo queria. Até "defuntos cívicos" havia. No dia da votação, em vários municípios do país, eles saiam da tumba, tal como dóceis almas penadas, para comparecem às urnas para dar sua assinatura ao candidato do coronel. Inventaram o "eleitor imortal".

A oposição sempre terminava decapitada pelo sistema de "recontagem de votos", quando os votos que recebia desapareciam como num passe de mágica. Era a curiosa aritmética do governo funcionando. Todo este mundo começou a vir abaixo com a crise da Bolsa de Valores de 1929. Os ânimos então se exaltaram.

As eleições de 1º de março
A campanha da "Aliança Liberal" (que não tinha nada de liberal), liderada por Getulio Vargas, do Rio Grande do Sul, e por João Pessoa, da Paraíba, ousou enfrentar o oficialismo da "Concentração Republicana" representada pelo presidente-governador Julio Prestes de São Paulo, apoiado pelo presidente Washington Luís. Foi a mais violenta campanha presidencial da história brasileira.

Em Montes Claros, Minas Gerais, Melo Viana, o vice-presidente da republica, foi recebido a chumbo. Em Vitória, no Espírito Santo, um entrevero rendeu cem mortos e feridos. O bravíssimo deputado Batista Luzardo, chefe da caravana aliancista, de pé, impávido, ouviu as balas prestistas zunirem ao seu redor em Garanhuns, em Pernambuco. Era uma época que exigia grandezas machas e doses de loucura para se fazer política.

Quando o festival de tiroteios se encerrou em 1º de março de 1930 o oficialismo contabilizou 60% dos votos para o doutor "Julinho". Todavia, o eleito não tomou posse. O assassinato de João Pessoa, ocorrido no Recife em 26 de julho, pôs o governo a perder.

O começo da revolução
Na tarde de 3 de outubro de 1930 de uma Porto Alegre sacudida por boatos de rebeldia, o secretário do interior de Getulio Vargas, Osvaldo Aranha, alto, elegante, sempre com cigarros a boca, colocou seu revolver na cintura e saindo do Grande Hotel dirigiu-se para os começos da Rua da Praia para, junto com a Guarda Civil, tomar de assalto o QG da 3ª Região Militar.

Às dez da noite todas as guarnições federais tinham caído nas mãos dos revolucionários. Morreram 19 soldados e oficiais e mais de cem ficaram feridos. Um novo Brasil começou a nascer então.

Fonte: VOLTAIRE SCHILLING