31.5.11

As crises do petróleo

Introdução

Durante os séculos XVI e XIX o verdadeiro motor das expansões marítimas e das atividades econômicas era a busca do ouro. Reis, navegante, soldados, e mercadores uniram-se para,localizá-lo em qualquer parte do mundo. Os portugueses tentaram no litoral da África Ocidental e depois no Brasil (os grandes veios só foram encontrados no século XVIII, nas Minas Gerais), os espanhóis lançaram-se sobre o México e esvaziaram o ouro e a prata dos astecas, o mesmo fizeram com os incas no Peru. Os americanos só o encontraram depois de 1848, na Califórnia, que recém haviam conquistado do México. Os ingleses toparam com os primeiros veios na Austrália no século XVIII e depois na África do Sul, na região dos Transvaal, na década de 1880.

Mas a partir de 1859 um novo produto vai atiçar a cobiça humana. Visitando a Pensilvânia, George Bissel encontra petróleo. A partir de então começa a grande corrida atrás do ouro negro. Em princípio extrai-se apenas o querosene para a iluminação, mas com advento da indústria automobilística (Ford fabrica o primeiro modelo em 1896) e do avião (os irmãos Wright voam em 1903), somado à sua utilização nas guerras, tornou-se o principal produto estratégico do mundo moderno. As maiores 100 empresas do nosso século estão ligadas ao automóvel ou ao petróleo. E os nomes de John Rockeffeler (fundou a Standar Oil em 1870), Paul Getty, Leopold Hammer, Alfred Nobel, Nubar Gulbenkian e Henry Ford tornaram-se mundialmente conhecidos por estarem associados ao petróleo ou ao automóvel.

Dados sobre o petróleo

Calcula-se que existam 1 trilhão de barris (1 barril = 159 litros) de petróleo, desses, 43,4% já foram extraídos e consumidos até 1990.

A produção mundial anual atinge a 24 bilhões de barris, consome-se 23 bilhões e 1 bilhão vai para os depósitos (os EUA produzem 13%, a Europa Ocidental 6%, o Golfo Pérsico 27%, os outros 19%).

As reservas existentes no mundo inteiro são calculadas em 137 bilhões de toneladas (67% delas se encontram no Oriente Médio).

Crises do petróleo

As crises do petróleo - todas depois da 2ª Guerra Mundial - que momentaneamente interromperam seu fluxo, mostram um cruzamento de conflitos. A primeira delas ocorre entre os estados-nacionais e as grandes empresas multinacionais visando o controle do processo produtivo e distributivo. Tratou-se de uma luta em torno do dinheiro e do poder. O segundo tipo de conflito, numa etapa posterior, deu-se entre os países produtores e os países consumidores.


Estados-Nacionais X Empresas Multinacionais


A exploração dos recursos petrolíferos no Terceiro Mundo começou em 1908 com a descoberta de lençóis de petróleo no Irã. A partir de então toda a região do Golfo Pérsico começou a ser explorada. Foi o início de uma política de concessões feitas pelo Xá e por chefes tribais árabes a grandes companhias estrangeiras, particularmente inglesas (Anglo-iranian) e americanas (Texaco, Mobil Oil, Esso, Standar Oil). Dois fatores fizeram com que o petróleo passasse a ser estratégico no nosso século. Em 1896 Henry Ford começou a produzir o primeiro veículo automotor em série, inaugurando a era da moderna indústria de automóveis, expandindo-se para outros transportes como o aeronáutico. O aumento do consumo de gasolina e óleo começa então a impulsionar a prospecção e a busca de mais poços de petróleo, tanto nos Estados Unidos como no exterior. Outro fator que levou o petróleo a tornar-se o negócio do século ocorreu em 1911, com a decisão tomada por Churchill, quando Ministro da Marinha inglesa - a maior do mundo -, de substituir o carvão pelo óleo como energia para seus navios, em 1911.

De 1908 a 1950, as companhias multinacionais formaram verdadeiros impérios (eram chamadas as 7 grandes) abarcando todas as zonas produtoras de petróleo espalhadas pelo mundo, mas concentradas basicamente no Oriente Médio. Foi a época de ouro das multinacionais. Elas possuíam sua própria política externa, suas linhas de aviação e comunicação completamente independentes. Geralmente seus administradores e gerentes eram os homens mais importantes do país e seus verdadeiros governantes. Os estados que existiam eram neocoloniais, dependentes, sem poder e força para disputar o controle da riqueza nacional.

Essa situação começou a inverter-se a partir da 2ª Guerra Mundial. As antigas potências colonialistas (Inglaterra, França e Holanda) perderam suas energias na guerra. Um forte movimento nacionalista teve então início. No Irã, em 1951, deu-se a primeira crise com a política do 1º Ministro Mossadegh que nacionalizou a British Petroleum. Mas, em 1953, a CIA e o serviço secreto inglês, numa operação conjunta, conseguiram reverter a situação e Mossadegh foi deposto e o Xá Reza Pahlevi, pró-americano, foi novamente entronado. Mesmo tendo fracassado, a política nacionalista de Mossadegh foi o ponto de partida para uma série de enfrentamentos que se seguiram entre os estados-nacionais, que começavam a se fortalecer, contra o poder das empresas multinacionais. Gradativamente as empresas foram vendo diminuir suas regalias sendo obrigadas a aceitar o pacto dos cinqüenta mais cinqüenta, que tornava os estados-nacionais sócios iguais delas.

A segunda crise do petróleo ocorreu em 1956 quando o Presidente do Egito, Gamal Nasser, nacionalizou o Canal de Suez, em mãos de uma companhia anglo-francesa. Com a intervenção militar de tropas inglesas e francesas ocorreu um boicote do mundo árabe que foi contornado pela exigência dos Estados Unidos e da URSS que aquela intervenção cessasse imediatamente.

A terceira crise ocorreu durante a Guerra dos Seis Dias, quando Israel travou uma guerra fulminante com seus vizinhos. Mas a mais grave, a quarta, ocorreu durante a Guerra do Yon-Kippur, quando os árabes agora organizados no cartel da OPEP (fundada em Bagdá, em 1960), decidiram aumentar o preço do barril de petróleo (de U$ 2,9 para U$ 11,65), um aumento de 301%. Essa última crise assinala uma mudança substancial do conflito. Agora não se trata mais de um enfrentamento entre estados-nacionais e multinacionais, mas entre produtores e consumidores.

A penúltima grande crise mundial - a quinta crise - ocorreu como resultado da espetacular deposição do Xá Reza Pahlevi, em 1979, seguida pela Revolução Xiita que desorganizou todo o setor produtivo do Irã. A crise estendeu-se até 1981, quando o preço do barril saltou de U$ 13 para U$ 34. Ou seja 1072% em relação ao preço de 1973.

A crise do Golfo

Depois de ter-se envolvido numa desgastante guerra de fronteiras com o Irã, o ditador iraquiano Saddam Hussein resolveu atacar, em 1990, o emirado do Kuwait, um dos maiores produtores de petróleo dom mundo. Saddam o transformou na 19ª província da República Iraquiana. Tinha início a sexta crise do petróleo do após-Guerra. O Kuwait era considerado fornecedor estratégico pelos Estados Unidos, fazendo com que os americanos temessem que Saddam Hussein pudesse açambarcar o controle de metade do fornecimento do petróleo na região. Igualmente receavam que ele pudesse alastrar-se para a Arábia Saudita.

Conseguiram então fazer com que a ONU autorizasse uma operação militar visando a desocupação do Kuwait. Em 1991, liderando uma força multinacional (composta por inglese, franceses, italianos e outros países árabes), os Estados Unidos reconquistaram o emirado e expulsou as tropas iraquianas de volta para suas fronteiras. Ao bater em retirada os iraquianos incendiaram todos os poços de extração provocando uma das maiores catástrofes ecológicas do mundo, fazendo com que grande parte da vida animal do Golfo Pérsico fosse destruída.

A intervenção internacional foi o passo inicial da chamada Nova Ordem Mundial onde o consenso das nações determinou não aceitar mais nenhuma guerra de anexação.

Sanções sobre o Iraque

Desde que foi derrotado pela Operação Tempestade no Deserto, Saddam Hussein passou a sofrer sanções internacionais. Em sua política econômica foi bloqueado por meio da proibição de vender petróleo iraquiano, bem como de importar uma série de outros produtos. No plano militar foi limitado por dias zonas de exclusão, uma ao norte, no Paralelo 36 e outra ao sul, no Paralelo 32, onde sua aviação e seus soldados não podem transitar - apesar de ser território iraquiano - sob pena de sofrerem represálias. A garantia de que o Iraque terá de obedecer essas normas é reforçada pela presença da esquadra americana ancorada no Golfo Pérsico e que tem o poder de lançar mísseis sobre o país.

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