18.6.12

A História da riqueza do homem



O Feudalismo situou-se no período histórico conhecido como Idade Média e foi um modo de sistematização da vida social cuja economia se baseava na terra. Isto significa que o potencial de riqueza era medido na extensão e na quantidade de terras possuídas por um indivíduo. A essas terras denominamos feudos e era praticamente o reino de um senhor feudal. Logo, quem possuía terras era rico e quem não possuía terras era pobre e este, se quisesse sobreviver teria de se submeter a trabalhar para o senhor feudal. A sociedade na Idade Média era dividida em basicamente três grupos completamente distintos: no topo da pirâmide estava o clero, isto é, o poder político-religioso exercido pela Igreja Católica Romana desde a época do imperador Constantino no século IV. A Igreja era composta de pessoas altamente instruídas no campo filosófico e detinha um poder de influência muito grande devido ao seu poder territorial (por ser o maior senhor feudal da época) e espiritual na vida das pessoas. Abaixo da classe clerical estava a nobreza, isto é, os senhores feudais, os reis e os cavaleiros. Estes possuíam grandes propriedades de terra e detinha também o poderio militar. Pagavam à Igreja o dízimo da produção gerada em seus feudos ao mesmo tempo em que cobravam taxas abusivas de impostos aos camponeses que os cultivavam. Por fim, na base da pirâmide havia os servos, que eram a maior parte da população, composta de camponeses, artesãos e empregados de serviços gerais. Estes tinham que trabalhar para um senhor feudal para ter direito à uma pequena porção de terra, a qual cultivava e morava. Porém os servos tinham que cultivar tanto a sua terra quanto a do senhor. O que era produzido na terra senhorial era de propriedade do mesmo, e o que era produzido na terra do servo, este deveria dar uma porcentagem de sua produção ao referido senhor, como pagamento de impostos ou taxas.
Toda essa organização do sistema feudal tinha um efeito colateral grave: sendo a terra a base da fortuna do homem, tal visão começou a estimular muitas guerras por conquistas de terras. Eram feudos contra feudos, de modo que para se vencer as guerras era necessário fazer alianças. Estas alianças eram estabelecidas pela mútua cooperação em combate, transferência de feudos de um senhor ao outro e troca de presentes. Costumava-se um senhor oferecer partes de suas terras a outro senhor e este lhe ficava devendo certos serviços, em geral militares. Com essa relação era possível visualizar uma grande cadeia de senhores, cuja interligação passava pelos reis e terminavam na Igreja. Devido ao poderio espiritual exercido por esta, os nobres e conquistadores costumavam pagar uma determinada quantia de sua terra e sua produção à Igreja, com a imagem de que estariam fazendo algum ato de caridade e assim atraindo as bênçãos de Deus para suas vidas. No entanto, esta estava enriquecendo cada vez mais a ponto de se estabelecer como o maior senhor da época, possuindo mais de 1/3 das terras da Europa.
Como era de costume que os filhos dos senhores fossem herdeiros das terras, a Igreja se viu num dilema: se todos os padres, bispos e abades tiverem filhos, a quantidade de terras possuídas pela igreja certamente iriam diminuir bastante a medida que seu poder temporal também se esvaziaria. Qual então seria a solução mais plausível? O celibato clerical. Assim, a Igreja continuava a dominar as terras da Europa sem se preocupar em dividi-las no futuro.
Até os primórdios da Idade Média, aqueles que possuíam ouro e prata tinham o chamado capital estático. Isso porque para a nobreza e a Igreja daquela época, pouco importava se havia capital circulando devido às dificuldades de se encontrar algo em que investir. Isso ocorria pela própria natureza do feudalismo. A produção no sistema feudal era restrita ao feudo e portanto não havia muito o que comercializar. As famílias que trabalhavam nos feudos faziam suas próprias coisas, isto é, a economia feudal era basicamente autossustentável. Em geral uma pessoa que produzia algo em excedente levava ao mercado afim de trocar um produto por outro, mas não havia muita movimentação monetária. Até mesmo pela dificuldade em universalizar as moedas: cada feudo tinha a sua própria moeda, o que dificultava bastante o modelo comercial que concebemos hoje. Além da divergência de moedas e da falta de incentivo aos negócios, havia o problema das estradas, as rotas de comércio eram estreitas, em péssimas condições para a viagem e sujeitas a salteadores e ao pedágio. Isto fazia com que as mercadorias trazidas de longe fossem bastante caras. Somando a tudo isso estava a posição da Igreja contra a usura, o que dificultava e muito a obtenção de lucro comercial nos países da Europa cristã.
Mas no século XI o comércio começa a crescer absurdamente. Surge então a necessidade de explorar novas rotas comerciais e também a conquista de novas terras. A Igreja Católica então, motivada pelo grande acúmulo de riquezas que uma campanha de conquista no Oriente Médio poderia fornecer, lançou as Cruzadas, com a justificativa de converter os povos islâmicos à religião cristã e resgatar a Terra Santa do domínio destes. Os cruzados precisavam bastante de armamentos e alimentos, fato este que impulsionou a compra e, portanto, a expansão da prática comercial. Assim, sob a bandeira religiosa muitos se lançaram às Cruzadas e ao retornarem estavam visivelmente ricos e tinham gostos de consumo bem diferentes. As especiarias orientais eram bastante cobiçadas e isso gerou demanda comercial para esse novo tipo de consumo. Por isso organizou-se as feiras, grandes pontos de comércio que concentrava diversos tipos de mercadorias e a partir daí o dinheiro começava a circular, as estradas foram melhoradas e havia proteção aos comerciantes, já que se melhorou também a segurança. Pelo direito de comercializar nas feiras os mercadores pagavam ao senhor feudal certas taxas e não tinham muito problema em relação a isso, já que os custos não eram tão altos.
O avanço do comércio propiciou uma atividade ate então incomum: as transações financeiras. Havia nas feiras bancas especializadas em empréstimos, em débitos e dividendos, em câmbio de moedas. Com isso havia circulação de dinheiro. Já não se trocava produtos por outro, e sim um produto por uma determinada quantidade de dinheiro, o que facilitou bastante o consumo de certas mercadorias por parte da população. Também houve o surgimento das grandes cidades, especialmente na Holanda e Itália, onde o comércio era muito intensificado. A partir daí começava então o fim da sociedade e do sistema feudal. O fato é que devido a natureza dinâmica do comércio, era necessário mudar paradigmas tradicionais da sociedade feudal, Como as terras das cidades pertenciam aos senhores, estes queriam impor novas taxas e leis que não eram favoráveis aos comerciantes. Devido a isso, os mercadores se uniram e formaram as Ligas ou Corporações afim de enfrentar os senhores feudais. Começavam-se então os discursos de liberdade. O sistema feudal não era mais de utilidade ao comércio, pelo contrário, era fator limitante da expansão e da prática comercial. Havia por exemplo, a proibição ao lucro, exigência de submissão ao senhor e a soberania deste sobre a terra e a vida das pessoas constituíam sérios obstáculos aos interesses comerciais. Era necessário portanto, que o feudalismo deixasse de existir.
Ainda que o feudalismo deixasse de existir, o autor aponta um outro problema: a Igreja. A Igreja condenava a prática do lucro, ponto essencial na estrutura comercial. Mas acabar com a Igreja já era mais difícil, porque esta era uma estrutura tradicional que tinha poder temporal e portanto dominava todos os aspectos da vida na Idade Média. Como derrotar a Igreja? Minando os pontos menos polêmicos e aos poucos atacando sua estrutura eclesiástica até que ela ceda por completo, fato este ocorrido após a Reforma Protestante, alguns séculos mais tarde. Para o momento porém era necessário pressionar a doutrina da usura. De início, diz o autor, a Igreja dizia que qualquer lucro era condenável (menos é claro, os lucros que ela obtinha), depois começou a dizer que o lucro era condenável, mas em certos pontos era justo. Foi tolerando progressivamente, até que acabou por ceder completamente. Com a Reforma Protestante e especialmente no Calvinismo, a prática do lucro e da obtenção de riquezas não era somente tolerada como era completamente louvada. Isto mostra o potencial da economia para causar mudanças nos paradigmas sociais.
Uma curiosidade é que com a expansão comercial houve certas lutas por liberdade, muito embora não tivesse o mesmo peso que costumamos colocar sobre ela atualmente. Não havia naquela época a ideia do direito de ser livre e sim do direito de comercializar. Essas lutas incentivavam o poder e a influência das corporações de tal modo que os reis começaram a perceber que teriam uma grande oportunidade de expandir e unificar seu domínio. Por isso, apoiaram fortemente os burgueses através de inúmeras isenções de impostos e diversos auxílios.
Com a circulação de dinheiro e o crescimento comercial, a ideia de riqueza também mudou. Se antes quem tinha terras era mais rico, agora passou a ser que tinha mais ouro, já que as moedas passaram a ter lastro, isto é, uma moeda poderia ser trocada por determinada quantidade de ouro se assim a pessoa desejasse. Assim, os países começaram a perceber que quem tinha mais ouro em suas terras tinha mais riquezas, e quem tinha menos teria que fazer algo para suprir essa falta. Com isso, começaram os pedidos de empréstimos e a formar dividendos. Alguns nobres ficaram simplesmente pobres com a mudança e outros tiveram que correr atrás de banqueiros e comerciantes para lhes pedir ajuda. Assim, a nobreza estava inteiramente nas mãos dos burgueses. Se no feudalismo podíamos dividir as classes sociais em basicamente dois extremos – os servos na classe mais baixa e os nobres e sacerdotes em outro extremo – com a ascensão do comércio passou-se a ter uma nova classe de pessoas, a classe média, aquela que mais tinha o poder de compra e venda.
Outro fato interessante ocorrido com a expansão comercial foi, por assim dizer, a emancipação dos camponeses. No sistema feudal, um camponês era mantido em eterna servidão ao seu senhor, pelos laços de tradição. Devido a nova modalidade econômica porem, foi necessário que os camponeses se tornassem potenciais consumidores e por isso, deveriam tornar-se independente dos senhores feudais. Afim de que isso ocorresse, os camponeses começaram a cultivar as terras ate então inaproveitáveis como pântanos, florestas e desertos pagando aos proprietários certa soma em dinheiro e algumas taxas. Com isso, teve inicio ao surgimento de diversas aldeias e o crescimento populacional intensificou-se. Os senhores, vendo que a situação dos camponeses mudara, não pensaram duas vezes. Eles tinham que pagar o luxo que ostentavam vindo do Oriente e, portanto precisavam de dinheiro. Como os donos do poder são muito oportunistas, souberam propor aos seus antigos servos a troca do trabalho semanal que faziam por um pagamento em dinheiro anual. Assim, os camponeses ficavam isentos da obrigação e trabalhar as terras do senhor e poderiam produzir pra si mesmos e o excedente era vendido nas cidades e mercados.
Mas o que realmente impulsionou a emancipação camponesa e o fim definitivo do sistema feudal foi a Peste Negra, epidemia que dizimou mais de um terço da população europeia e modificou radicalmente os aspectos econômicos de então. Os camponeses viram que seu trabalho passara a valer mais e começaram a exigir isso aos senhores. Estes estavam relutantes e apertaram a pressão sobre os servos, que a partir dai iniciaram uma serie de revoltas e conflitos armados. E embora os senhores conseguissem conter algumas delas, as revoltas foram intensificadas e geraram por fim a mudança de paradigmas que fomentou a queda do sistema feudal: a terra passava a se tornar mercadoria.
A segunda mudança de paradigmas ocorrida foi a modificação das indústrias. Até a queda do feudalismo, a indústria era meramente artesanal e familiar. O camponês que quisesse um móvel, diz o autor, coletaria a madeira, faria os ajustes necessários ate se obter o móvel desejado. O meio de produção era familiar de subsistência, orientado às próprias necessidades da família do servo. Mas a pressão econômica deu uma nova oportunidade aos servos. Estes deixaram de ser camponeses e passaram a servir em seus próprios ofícios e para beneficiar a si mesmos. Eles passaram de empregados a patrões, montando suas fábricas e contratando pessoas para ajuda-los em suas atividades. Agora, o objetivo não era mais produzir somente o necessário, mas produzir excedentes para atender à demanda do mercado. Isso impulsionou e muito o desenvolvimento da indústria e consequentemente dando mais um passo rumo ao capitalismo.
Tais indústrias artesanais foram tão importantes que detinham o monopólio da arte do ofício estabelecida pela lei e era severamente protegida pelo país. Medidas protecionistas como o impedimento legal da transferência de tecnologia para outro país sob duras penas, além da proibição do trabalho de estrangeiros nos mostram claramente o impacto estratégico das indústrias no crescimento econômico do país. Mais uma vez porém a situação geraria conflito entre ricos e pobres. Para defender seus próprios interesses, os ricos estabeleciam leis que impediam a eleição de pessoas pobres para os grandes cargos das corporações. Com isso passaram a intervir na política econômica das cidades e reprimindo manifestações de aumento salarial e melhoria das condições trabalhistas, afim de conservarem o poder apenas para si. Foi então que a classe dos trabalhadores pobres tinha percebido que apenas mudaram de senhor, se antes eram os proprietários dos feudos, agora seus carrascos eram os burgueses.
A expansão das cidades e do comércio e a consequente queda do sistema feudal propiciaram a modificação das políticas e as formas de governo de toda a Europa, propiciando o nascimento dos Estados Nacionais. A busca pela independência das cidades em relação aos feudos fez com que se procurasse também a unificação do poder político nas mãos do rei. Ora, tal só ocorreu porque o comércio necessitava de unificar a economia monetária, as leis e a força política em torno de um país, uma unidade nacional que fosse forte o suficiente para se estabilizar dentro de si mesma e independente da Igreja. Para os camponeses inicialmente a unificação do poder tinha diversas vantagens: a unificação das leis de um país, o que os livrara de certa forma dos abusos das leis locais, o sentimento de nacionalidade que poderia garantir proteção, entre outras, que os fizeram apoiar o poder real. Entretanto, para que isso ocorresse foi de vital importância a queda do poder temporal da Igreja Católica, possibilitada através da Reforma Protestante. A Reforma não só diminuiu drasticamente o poder eclesiástico como deu base espiritual para a nova forma de pensamento econômico.
A Reforma teve início com Martinho Lutero, muito embora já houvessem grupos que queriam uma reformulação total da Igreja. Lutero entretanto, não ousou se colocar ao lado dos oprimidos ao contrário, incentivou os nobres alemães a aniquilar qualquer revolta que se fizesse com gritos de igualdade. Sendo Lutero um apoio à nobreza, esta teve a ideia de se[arar-se da Igreja e sob a égide de Lutero, fundar as igrejas nacionais. O mesmo ocorreu com outros reformadores como Calvino e John Knox. Com a Reforma, houve vários discursos nacionalistas que acabaram na confiscação das terras da Igreja por parte da nobreza e a expulsão dos estrangeiros. Já não vigorava mais o Direito Canônico e as Leis da Igreja, e sim o Estado secular e o Direito Romano. E particularmente, alguns ideais da Reforma como o Calvinismo deram substancial apoio ao surgimento e a consolidação do capitalismo.
Ora, com a centralização do poder e a unificação monetária, alguns reinos começaram a ter problemas com a chamada balança comercial, o equilíbrio entre oferta e demanda. Outros estavam enfrentando a escassez de ouro. Segundo a teoria econômica da época, quem tinha mais ouro era rico. Entretanto, o autor diz que alguns países estavam incapacitados de suprir a demanda pelo ouro, já que a moeda que circulava era insuficiente pela falta de ouro. Alguns reis começaram então a idealizar alguns planos, e a prática mais comum naquela época foi a desvalorização da moeda. Desvalorizar a moeda significava que uma determinada quantia em dinheiro já não era suficiente para comprar determinado produto como era possível anteriormente. Com isso, os preços subiam e os lucros também. O autor menciona que nem todos estavam satisfeitos com a desvalorização, porque ela afetava sobremaneira a vida da população mais pobre. Citando um autor francês desse período:
Isto confirma a afirmação já dita anteriormente que a desvalorização monetária causa imensos problemas para a população pobre. Até mesmo a Igreja Católica se posicionava contra. De acordo com o autor, o Bispo de Lisieux, Nicholas Oresme, teria dito:
Assim sendo, pode-se concluir que a desvalorização da moeda dava lucro apenas ao rei e portanto era objeto de interesse deste.
Com o tempo, haveria mais necessidade de ouro para sustentar não a população pobre, mas sim o luxo dos nobres e dos reis que compravam especiarias, tecidos e outros produtos caríssimos originários do Oriente. Devido a tal fato, iniciava-se a era das Grandes Navegações, com objetivos incialmente alegados de buscar uma rota melhor para as Índias. Ora, tais navegações deram aos espanhóis e aos portugueses uma nova chance de encontrar riquezas para seus respectivos reinos, embora a descoberta desta fonte de riquezas fosse supostamente acidental: a exploração da América. Os portugueses retiraram muito ouro, diamante e pedras preciosas do Brasil, enquanto os espanhóis vagavam por civilizações formidáveis como o Império Inca e o Império Asteca e tiveram que conquistar estes territórios para dali retirar o ouro que tanto almejavam. Outros se contentavam em achar uma nova rota real para a Índia e de lá obtinham lucros exorbitantes. Vasco da Gama, segundo o autor, conseguiu lucros à beira dos 6000%. Tais fatores demonstram a vital importância das navegações para o desenvolvimento da Europa em meados do século XV e XVI, não somente em termos comerciais com em aumento do estoque de ouro.
Por detrás das monarquias da época havia os banqueiros. Estes financiavam as navegações e as colonizações, emprestavam dinheiro aos reis e nobres ricos de tal forma que pouco tempo depois os governantes estavam totalmente a mercê dos banqueiros. Estes ganharam mais poderes do que a monarquia que sustentavam, mas
Em consequência da taxa excessiva das moedas de ouro e prata, mercadorias, alimentos e outros artigos de que todos necessitam para consumo tornaram-se tão caros que as pessoas comuns não têm como viver.
Há três modos, na minha opinião, pelos quais é possível obter lucros com dinheiro, além de seu uso natural. O primeiro é a arte da troca, a guarda ou movimentação do dinheiro; o segundo é a usura; e o terceiro é a alteração do dinheiro. O primeiro é vil, o segundo é mau e o terceiro é pior ainda preferiam mantê-la por lá como fantoches e governarem às escuras. Ainda hoje isto ocorre. É de salutar importância destacar que nos séculos XVI e XVII, a despeito dos alegados avanços econômicos, a Europa estava cheia de mendigos.
A causa mais comum para tamanha desigualdade estava nas guerras. A guerra sempre beneficiou poucos e destruiu muitos. Neste caso, havia muitas guerras sendo travadas naquela época em busca da conquista de território, ouro e prata. A outra causa era o aumento dos preços ocasionados pelas constantes desvalorizações das moedas. Aumentando os preços se diminui o poder de compra e consequentemente aumenta-se o índice de pobreza. Foi uma época de muitos motins e revoltas camponesas em busca de melhorias das condições de vida.
A expansão mercantil levou aos monopólios de produção e comercialização. Se uma determinada corporação ou governo tivessem concorrentes disputando pela venda de um mesmo produto, seus lucros diminuiriam muito. Portanto, era de extrema importância estabelecer regras e legislações de modo a proteger o mercado e a produção local da interferência de concorrentes. Assim, houveram muitas leis de incentivo ao monopólio, que em geral pertenciam ao rei ou a grandes e poderosas corporações. Entretanto, já no século XVIII, as pessoas começaram a clamar por um liberalismo econômico, porque as leis de monopólio não permitiam a exportação de certos produtos que alguns comerciantes e produtores gostariam de exportar afim de aumentar sua lucratividade. Queriam se dispor de seu capital como lhes aprouvesse, principalmente as colônias, que tinham que exportar apenas para a sua metrópole, o que dificultava as projeções de desenvolvimento interno. Para isto, era de fundamental importância a independência das colônias europeias na América. Os colonos estavam insatisfeitos com as imposições das metrópoles sobre o comércio, o modo de vida e a economia local e passaram a organizar revoltas com intenções de independência. Outro fator importante para o surgimento do liberalismo econômico foi a publicação da magnum opus do capitalismo moderno: Riqueza das Nações, de Adam Smith. Este desmascarava a doutrina mercantilista monopolista e dizia que para uma nação realmente se desenvolver, era necessário abrir as portas do comércio, tanto interno
Os dados sobre o número de mendigos nos séculos XVI e XVII são surpreendentes. Um quarto da população de Paris na década de 1630 era constituído de mendigos, e nos distritos rurais seu número era igualmente grande. Na Inglaterra, as condições não eram melhores. A Holanda estava cheia deles e na Suíça, no século XVI, “quando não havia outra forma de se livrar dos mendigos que sitiavam suas casas ou vagavam em bando pelas estradas e florestas, os homens de bens organizavam expedições contra esses desgraçados heimatlosen (desabrigados)” quanto externo e diminuir consideravelmente a interferência governamental nas transações. Defende também a propriedade privada e o direito do proprietário a fazer o que bem entender com esta.
Smith também defendia a especialização do trabalho, isto é, a ideia de que mantendo um trabalhador em determinado ramo, este se especializaria e tornar-se-ia num perito na profissão. Além disso, as indústrias teriam também que dividir o trabalho em diversas ramificações de modo a aumentarem consideravelmente a produção diária. A obra de Smith também defende, ainda que indiretamente, as bases do imperialismo. Um trecho apontado pelo autor menciona que se um país não tem ouro, prata ou matéria prima, deve buscar em outro país. Embora Smith dissesse que tal só pode ser feito mediante respeito à ética e à justiça, ou seja, por meios comerciais, os países imperialistas levaram a conclusão de Smith às últimas consequências: passaram a invadir países e interferir em sua política interna para propósitos de transferir matéria prima e expandir seu comércio neste local. Surgia então o mais novo tipo de colonialismo.
As teorias mencionadas em Riqueza das Nações impulsionaram definitivamente o sistema feudal para o esquecimento e propiciaram o estabelecimento do que hoje conhecemos por capitalismo de livre-mercado. O capitalismo tem em sua essência um discurso aparentemente libertador: como livre comércio, até mesmo um pobre camponês pode se tornar rico, bastando-lhe ter o conhecimento necessário para se sair bem no mercado. Este discurso de mobilidade na pirâmide social fez com que o capitalismo se tornasse o sistema mais bem sucedido da história da humanidade. A grande maioria das pessoas abraçou o sistema e a ele se conformaram. No capitalismo, alguém é dono dos meios de produção e portanto, do capital, e pode dispor deste conforme lhe desejar. Mas de onde vem esse capital? O autor tenta explicar que todo o capital obtido pela Europa nos séculos XVII e XVIII foi obtido através de atos desumanos de exploração nos séculos passados. Uso de mão-de-obra escrava, atos cruéis e indescritíveis promovidos pelas tropas conquistadoras de Fernão Cortez e Francisco Pizarro aos índios sul e centro-americanos, subornos, traições e assassinatos levaram à Europa ouro, prata, diamantes e matérias primas. Por amor ao dinheiro, a Europa se enchia de sangue. Para confirmar tal fato, o autor menciona Karl Marx:
Quando não era possível a exploração em outro país, quem sofria era a população camponesa local. O autor relata que na Inglaterra do século XVIII era
Se o dinheiro… vem ao mundo com uma mancha congênita de sangue numa das faces, o capital vem pingando da cabeça aos pés, de todos os poros, sangue e lama comum uma pessoa rica mandar acabar com uma aldeia de camponeses para servir de pastagem e colheita ou outros fins próprios. Assim, estes camponeses expulsos de suas próprias terras tornaram-se mais tarde os trabalhadores e operários das grandes indústrias inglesas, recebendo muito pouco e trabalhando arduamente para ter alguma esperança de sobrevivência.
No entanto, a história da exploração do homem por causa da economia não para por aqui. A economia inglesa deu oportunidade ao desenvolvimento tecnológico e industrial. Houve então a chamada Revolução Industrial, onde uma explosão na quantidade de fábricas impulsionou a produção inglesa. Através das máquinas, que produziam muito mais em menos tempo, as indústrias passaram a gerar bens de consumo de massa. Para que essas máquinas funcionassem, era necessário operários e estes vieram das grandes massas de camponeses expulsos de suas terras alguns séculos antes. O proprietário da indústria passou então a considerar o camponês como “capital humano” e por isso cria que poderia se dispor deste da forma que desejasse. Assim, haviam abusos por parte dos proprietários, de forma que os operários tinham que trabalhar até 18 horas por dia para manter as máquinas em constante produção e recebiam muito pouco por isso. Não obstante, tinham que aguentar as condições precárias de trabalho e os castigos em algumas fábricas inglesas. Devido a isso, alguns trabalhadores iniciaram motins e revoltas com a intenção de ao menos diminuir sua carga horária de trabalho. Logicamente tais revoltas foram severamente reprimidas, como sempre foram ao longo da história da exploração do homem.
Os trabalhadores então se reuniram em sindicatos afim de conquistarem direitos. Vendo que a força sindical se tornava grande, os industriais pressionaram o Parlamento a proibir quaisquer manifestações sindicais. Entretanto, tais repressões apenas espalhavam o ideal sindicalista para o mundo inteiro. O problema estava em que para os legisladores e governantes da época, as teorias econômicas de Malthus, Smith, Stuart Mill e outros eram como leis. Se funcionavam (para eles), isto é, se davam lucro, então erram corretas e já passavam de teorias a leis. E acreditavam piamente que se dessem qualquer brecha aos movimentos de trabalhadores, o país iria à falência. Também acreditavam que os trabalhadores nasciam na sociedade para servir e portanto, qualquer manifestação contrária a esta seria uma heresia e tentativa d rebeldia.
Ora, com o desenvolvimento intelectual da época, alguns começaram a enxergar o que estava por trás de todo teatro político-econômico usado pelos donos do poder. Uma dessas pessoas foi o alemão Karl Marx. Ele apresenta sua teoria econômica no livro O Capital, onde discorre acerca das deficiências do sistema capitalista e diz que o trabalhador não é menos escravo do que no sistema feudal. Também rebate as teorias clássicas do valor do trabalho e da propriedade provada. Sua teoria de divisão do trabalho no sistema capitalista ficou conhecida como “Mais-Valia”, porque o trabalhador não usufrui daquilo que produz mas sim trabalha para consumir aquilo que ele mesmo produz, posto que seu trabalho se transforma em mercadoria e esta em lucro ao empregador. Pouco tempo depois da publicação de O Capital, um grupo de economistas apresentam ao mundo uma teoria totalmente nova, denominada Teoria Marginal da Utilidade. Para eles, o valor de um produto pode ser medido através da utilidade que este produto tem para uma pessoa. Portanto o preço final do produto deve estar na margem de quem pode dar mais e de quem pode dar menos, estabelecendo um ponto de equilíbrio, tornando o produto mais acessível.
Mas nos EUA estava se desenvolvendo uma nova forma de monopólio, o truste. O autor conceitua truste da seguinte maneira:
Em outras palavras, o truste era uma nova forma de monopólio sobre um produto, que consistia em controle total sobre este e da previsão absoluta da margem de lucro. Isto possibilitava as empresas abaixarem e aumentarem seus preços ao bel prazer e eliminar a concorrência. Quem executava as medidas de trustes eram os cartéis, associações de empresas do mesmo ramo que se uniam para combater a ampla concorrência e manter os preços ao nível comum.
Mas então aparece o Comunismo. Esta doutrina defendida por Marx e Engels tinha por intenção derrubar a propriedade privada e concentrar o poder na mão do proletariado. Os comunistas lideraram revoltas em diversos países, muitas delas foram eliminadas, em outros tiveram sucesso. Com o fim da propriedade privada, o trabalhador passaria a ter controle sobre os meios de produção e portanto da economia como um todo. Ao menos era assim na teoria. As ideias comunistas foram implantadas na Rússia por Lenin, em Cuba por Fidel Castro e na China por Mao Tse Tung, embora não exatamente da forma que Marx idealizou. O fracasso do comunismo como sistema econômico foi devido à má implementação deste nos regimes que o adotaram, além dos constantes ataques dos EUA devido a ameaça que a doutrina tinha para os interesses do país, pois o fim da propriedade privada significava necessariamente o fim do capitalismo.
O truste é qualquer forma de organização industrial, na produção e distribuição de qualquer mercadoria, que dispõe de controle bastante da oferta dessa mercadoria para modificar o preço em seu favor.

Por: Renato Abreu Ortiz de Andrade

Fonte: http://www.ahistoria.com.br/riqueza-do-homem/