2.7.13

A educação na Grécia clássica dos sofistas a Platão


Na análise da educação na Grécia clássica, observa-se que o modelo sofístico foi desmascarado e substituído pelas ideias de Sócrates e Platão.





Platão e Sócrates em uma pintura medieval


O caráter comunitário da Paideia (educação) grega imprimiu-se em cada membro, sendo fonte da ação e do comportamento. A estrutura social assentava nas leis e normas, escritas ou não, unindo a si e a seus membros, sendo a educação o resultado da consciência viva de uma norma cuja finalidade era a formação de um elevado tipo de homem (forma ideal do Belo e do Bom guerreiro), representando, assim, o sentido de todo o esforço humano (e isso justifica a comunidade e a individualidade).

Desse modelo ideal aristocrático ao ideal democrático, importantes alterações foram feitas: antes eram os poetas que através dos mitos transmitiam os valores que deveriam ser imitados pelo povo grego. Mas, com a assembleia, surge a necessidade de se falar em público e o bem falar era a pretensão sofística. A democracia, como governo do povo, ainda exigia dirigentes eleitos e os sofistas trabalhavam em prol daqueles que almejavam os cargos estatais. A palavra ganha destaque. Nas assembleias, os retóricos conseguem persuadir com sua eloquência, detendo o poder para a realização dos seus interesses.

Esse ensino foi feito de forma privada e particular, tendo a virtude como aptidão intelectual voltada para os negócios públicos. No entanto, ensinar a falar não era suficiente para aprender uma ciência. Logo, o modelo sofístico foi desmascarado como a produção de discursos ilusórios que pretendem convencer por convencer e não pela verdade. É onde entra a figura de Sócrates como educador.

A partir do questionamento da essência do homem, a qual foi identificada com a alma (razão, consciência e personalidade intelectual e moral), o conhecimento da virtude teve de ser reformulado: virtude ou excelência é aquilo que torna uma coisa boa e perfeita naquilo que é ou a atividade ou modo de ser que aperfeiçoa cada coisa, fazendo-a ser aquilo que deve ser (a virtude do cavalo = velocidade, a virtude do cão = disciplina, a virtude do soldado = temperança e coragem, etc.). Há, pois, uma inversão de valores. Enquanto os sofistas pregam a imediaticidade, a fama, a glória, a honra como valores externos a serem alcançados; a visão socrática busca o conhecimento, a técnica, a ética, como valores internos a serem realizados.

É assim que se compreende o que quer dizer a noção de que o erro é involuntário. É impossível conhecer o Bem e não fazê-lo. A noção de autarquia promovida pela virtude significa o autodomínio da racionalidade sobre a animalidade e a felicidade seria a harmonia e a ordem interior no homem que aprendeu a controlar os seus impulsos. A violência e os desejos são ímpios e devem ser educados.

Seguindo os passos de seu mestre, Platão desenvolveu a postura de Sócrates retomando o mito como expressão de fé e crenças racionalizadas. Para ele, omito procura clarificação no lógos e este busca complementação no mito. Com a razão no limite, cabe ao mito superar intuitivamente esses limites, elevando o espírito a uma tensão transcendente. É dessa forma que as causas últimas que garantem o conhecimento são as Ideias (ou Formas), que são o paradigma da discursividade e do entendimento. O conhecimento é Anamnese, isto é, rememoração, lembrança que explica a possibilidade da ciência enquanto condiciona essa possibilidade à presença de uma intuição originária do verdadeiro na alma. É por isso que se faz necessário o uso da dialética para verificar a relação entre opinião e ciência, já que há uma hierarquia que depende da ascensão e descensão da busca, isto é, o momento de se pensar e o momento de se fabricar discursos segundo os modelos ideais. A arte é distanciamento da verdade, pois é cópia do verdadeiro. Por isso, Platão também faz um certo uso da retórica a fim de superar as opiniões horizontais.

É por isso que somente o amor é capaz de fazer esse caminho. Ele vai do alógico, do irracional, do sensível e desejante até o racional, lógico e inteligível, promovendo a compreensão da essência das coisas que por isso mesmo tornam-se belas. É também assim que a educação no Estado ideal consegue realizar o conceito de Justiça, que é o fim da vida política.


Por João Francisco P. Cabral